domingo, 13 de junho de 2010

O IMORTAL ASSIS BRASIL

O ESCRITOR PIAUIENSE, ASSIS BRASIL


ESTA ENTREVISTA FOI CONCEDIDA POR ASSIS BRASIL AO SITE " SAPIÊNCIA", ORGÃO INFORMATIVO DA FAPEPI, TERESINA, PAUI, EM JUNHO DE 2007. AGORA, COM A DEVIDA VÊNIA, A TRANSCREVEMOS.

NELA O ESCRITOR FALA DE SUA OBRA, HOJE COM 122 LIVROS PUBLICADOS E, PELA PRIMEIRA VEZ, DAS DIFICULDADES QUE ENFRENTOU NAS CIDADES GRANDES, ANTES DE SE TORNAR UM DOS MAIS IMPORTANTES AUTORES DA CRÍTICA E LITERATURA NACIONAL.

ESSE BLOG É UMA HOMENAGEM A ESSE HOMEM DAS LETRAS. ESSE TRABALHADOR PROFÍCUO, METÓDICO E DISCIPLINADO, QUE CONSEGUIU LARGAR TUDO ( EMPREGO EM JORNAIS E FACULDADES) PARA SE DEDICAR E VIVER, EXCLUSIVAMENTE, DA SUA ARTE : ESCREVER.

MEMBRO DAS ACADEMIAS, PIAUIENSE E PARNAIBANA DE LETRAS, ASSIS BRASIL CONTINUA ESCREVENDO NOVOS LIVROS, DANDO CONFERÊNCIAS E VIAJANDO PELO PIAUI, ONDE HOJE RESIDE. A CULTURA BRASILEIRA, OU AQUELES QUE A REPRESENTAM, AINDA MUITO LHE DEVEM:

QUANDO VEREMOS ASSIS BRASIL NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS? TALVEZ O AUTOR NAO DESEJE ESSA REGALIA, MAS SABEMOS POR SUA VASTA OBRA , QUE ELE REALMENTE MERECE O FARDÃO DOS IMORTAIS, DA CASA DE MACHADO DE ASSIS.


VEJAM COMO ELE SE DEFINE :


"Minha mente trabalha em dois setores, um mais racional e outro mais sensível. A minha Tetralogia Piauiense cobre as duas áreas. Mas escrevi dois romances, passados no Ceará, que me atingem muito emocionalmente: A Volta do Herói e Zé Carrapeta, o Guia de Cego. Do ponto de vista da técnica narrativa, destaco o romance histórico, Villegagnon, Paixão e Guerra na Guanabara e o romance O Prestígio do Diabo."

---------------------------------------------------------------------------ORION LIMA-------


A ENTREVISTA COM ASSIS BRASIL


"ASSIS BRASIL:


UM PIAUIENSE QUE TRANSFORMOU A LITERATURA


BRASILEIRA"


SAPIÊNCIA- Foi difícil para o senhor, nascido numa província distante como o Piauí, tornar-se um escritor de renome nacional? O que levou a deixar o Piauí e radicar-se no Rio de Janeiro?

ASSIS BRASIL - Foi relativamente difícil, mas eu, como jornalista, tive a sorte de ter acesso à área, passando a colaborar literalmente nas chamadas folhas. Eu estava morando e estudando em Fortaleza, Ceará, terra de minha mãe. Como eu já escrevia, achei que um centro maior seria o ideal para mim, não só para continuar os estudos, como para me tornar (eu já tinha consciência disso) escritor.

SAPIÊNCIA - O Piauí ainda é uma “província” distante para quem tem talento na literatura?

ASSIS BRASIL - Todas as “províncias” brasileiras. Jornalista, críticos literários, historiadores, só prestam atenção no que acontece no Rio e S. Paulo. Mesmo saindo a capital daqui do Rio, esta cidade continua a ser o foco nacional. Nas Faculdades a coisa é ruim porque os professores, seus conhecimentos são limitados às cidades citadas. Quer dizer, o “provincianismo” é dessa gente responsável pela cultura do país.

SAPIÊNCIA - Os romances que compõem a Tetralogia Piauiense constituem, de alguma forma, reminiscências da sua infância e juventude passadas em Parnaíba?

ASSIS BRASIL - Sem dúvida. Conheci Luíza pessoalmente, que estilizei, através da criação para o romance. Ela, já velha, tinha se “aposentado” da prostituição e vivia lavando roupa para fora. Ela lavava lá para casa. Quando ela desaparecia, minha mãe me pedia para ir procurá-la no cais. Eu tinha uma bicicleta e isso facilitou a minha ida aos subúrbios pobres de Parnaíba. Assim foi que conheci a vida como ela é...e me deu mais estofo para escrever. Além da Tetralogia, publiquei Histórias do Rio Encantado, que se passa no mesmo cenário socialmente marginal.

SAPIÊNCIA - Muitos de seus romances podem ser apontados como obras de denúncia social, como por exemplo Os que bebem como os cães, além dos que integram a Tetralogia Piauiense. O senhor se considera um escritor “engajado” na luta pelas causas políticas e sociais?

ASSIS BRASIL - Claro que sim. Toda a minha obra, incluindo os livros infanto-juvenis, giram sob a essa ótica. Sempre defendi a tese de que todo escritor, todo artista, têm essa preocupação em sua obra, quer implícita ou explicitamente. O conhecimento em nosso país é muito limitativo. Fizeram a diferenciação entre “engajado” e ‘alienado” e pronto. E ainda hoje, quando as ideologias desapareceram, muitos continuam a “pastar” nesse simplismo. Uma vez defendi Clarisse Lispector e Samuel Rawet da acusação de serem escritores ‘alienados”. A acusação foi feita pelo Paulo Francis, que pertencia a uma corrente supostamente engajada, que era conhecida como ‘esquerda festiva”. Ele era leitor da editora “Civilização Autorais” de seus editados.

SAPIÊNCIA - O senhor foi no passado um grande vencedor de prêmios literários. Atualmente ainda tem participado desses concursos?

ASSIS BRASIL - Ganhei, não faz muito (2004), o Prêmio Machado de Assis (parte conjunto de obra), da Academia Brasileira de Letras. Em 1975, quando ganhei novamente o Prêmio Nacional Walmap, com o romance Os que Bebem como os cães o escritor “baiano” Osmar Lins, deu uma entrevista para aquela revista “norte-americana”, a Veja, dizendo que os escritores “tarimbados” não deviam participar de concursos; seria bom que eu desse o lugar para os mais novos.

Depois descobri que ele, que era mais velho e mais “tarimbado” que eu, tinha concorrido ao mesmo concurso. A história dos “bastidores” do WALMAP/75 é uma história de horror: gente pressionando a comissão julgadora para dar prêmio aos seus “afilhados”, inclusive, o “famoso” José Olympio, que estava para lançar um romance que concorria àquele prêmio e queria aproveitar a publicidade do Walmap. As pressões foram grandes que “mataram” o Walmap. Ele acabou naquele ano. Concorri com o pseudônimo, “Jeremias”, nome do personagem central, e meu livro foi premiado por unanimidade (seis membros na Comissão Julgadora), cerca de 300 concorrentes.

SAPIÊNCIA - Ultimamente,com o incremento dos cursos de pós-graduação na área de Letras, sua obra tem sido objeto de vários estudos acadêmicos. O senhor tem acompanhado esses trabalhos?

ASSIS BRASIL - Tenho acompanhado, e isso em vários Estados. O primeiro trabalho saiu em Niterói (RJ) quase que em cima da publicação do Beira Rio Beira Vida. As teses são boas em modo geral. É bom que os estudantes de Letras saibam da importância da literatura, pois sem arte uma sociedade não sobrevive. Tomamos conhecimento de vários países através de sua arte, e não da sua política ou economia...

SAPIÊNCIA - Em 1912, o poeta Lucídio Freitas, realizou, através do jornal Diário do Piauí, uma enquete a respeito da literatura piauiense. Uma das questões propostas era : “Que papel representa o Piauí no momento literário do País?” Se a pergunta fosse dirigida ao senhor, hoje, qual seria sua resposta?

ASSIS BRASIL- No momento literário do País, o nosso Piauí representa muito, e também de um ponto de vista mais abrangente culturalmente. E sei que tenho participação ativa nesse processo. Tenho destacado, não só nos meus livros como em conversa com intelectuais, a ação preponderante do Estado no complexo cultural do País. O Piauí edita revista, publica livros, a Academia Piauiense de Letras tem participação forte, como outras entidades culturais. Só precisamos cobrar do Governo uma ação mais dinâmica. O que é isso? Melhores verbas para essas entidades, que vivem de pires na mão.

E a despeito disso, funcionam. Sei que a nossa Academia Piauiense sobrevive com dificuldade. Um país se faz com homens e livros, disse Monteiro Lobato, e Castro Alves exaltou a sua importância. Sei que o Piauí se esforça para fazer o melhor, como esse Salão do Livro do Piauí, uma verdadeira bienal do livro, ao nível das do Rio e São Paulo. É comovedor ver as crianças folheando e comprando livros, como vi no ano passado em Teresina. Os governantes também precisam se comover e abrir os cofres. Tomei conhecimento de que a Secretaria de Cultura da minha terra, Parnaíba, não tem dinheiro nem pra comprar água mineral...

SAPIÊNCIA - A partir dos anos 70, a produção literária destinada ao público infanto-juvenil cresceu de forma extraordinária, no Brasil, não só pelo aparecimento de autores novos, mas também porque muitos autores já consagrados começaram a publicar literatura infanto-juvenil. No seu caso, por que passou a escrever para crianças?

ASSIS BRASIL- No meu caso comecei com a publicação de um livro infanto-juvenil, Verdes Mares Bravios / Aventura no Mar. E não poderia ter sido o contrário, pois eu o escrevi com apenas 15 anos de idade. Muitos anos depois fiz uma adaptação e a Editora Melhoramentos o publicou. A “volta foi curiosa”- além de receber, dos editores muitos pedidos de livros para a área, uma noite tive um sonho, que era uma história completa para crianças e jovens. Quando amanheceu, me sentei na máquina e escrevi o primeiro episódio de uma série narrando as peripécias de um aventureiro e ecologista, amigo dos índios. Chama-se, o personagem central, das narrativas infanto-juvenis, Gavião Vaqueiro, nascido em Piracuruca, no Piauí. Escrevi perto de 30 histórias com o mesmo personagem, em episódios autônomos.

A editora Melhoramentos publicou nove narrativas, sempre com ampla aceitação entre professores (1º e 2º graus) e alunos. Depois publiquei mais histórias por inúmeras outras editoras, creio que no total mais de 20. O Herculano Moraes está com uma dessas histórias inéditas para publicar em Teresina. Depois os outros livros para a área vieram automaticamente – creio que, no total, publiquei mais de 40. Gosto de escrever para crianças e jovens, me sinto bem. Quando estou trabalhando em livros mais complexos (ensaios/romances), costumo dizer que volto de vez em quando a escrever para jovens me faz mais jovem e descanso das engrenagens mais envolventes do meu cérebro.

SAPIÊNCIA - Algumas de suas importantes obras tem virado tese de mestrado. Qual de suas tantas publicações mais gosta e por que?

ASSIS BRASIL - Minha mente trabalha em dois setores, um mais racional e outro mais sensível. A minha Tetralogia Piauiense cobre as duas áreas. Mas escrevi dois romances, passados no Ceará, que me atingem muito emocionalmente: A Volta do Herói e Zé Carrapeta, o Guia de Cego. Do ponto de vista da técnica narrativa, destaco o romance histórico, Villegagnon, Paixão e Guerra na Guanabara e o romance O Prestígio do Diabo.

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